Título Original: Fahrenheit 451
País: França
Ano: 1966
Duração: 112 minutos
Gêneros: Drama, Ficção Científica, Thriller
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut, Ray Bradbury
Elenco:
Oskar Werner
Julie Christie
Formato: RMVB
Tamanho: 446 MB
Legendado: Português
Sinopse:
Romance distópico de ficção científica soft, escrito por Ray Bradbury (1920-2012) e publicado pela primeira vez em 1953. O conceito inicial do livro começou em 1947 com o conto “Bright Phoenix” (que só seria publicado na revista Magazine of Fantasy and Science Fiction em 1963). O conto original foi reformulado na novela The Fireman, e publicada na edição de fevereiro de 1951 da revista Galaxy Science Fiction. A novela também teve seus capítulos publicados entre março e maio de 1954 em edições da revista Playboy. Escrito nos anos iniciais da Guerra Fria, o livro é uma crítica ao que Bradbury viu como uma crescente e disfuncional sociedade americana.
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Comentário:
Pílulas para insônia, depressão, excitação. Para nos deixar acordado, nos deixar concentrado, para síndrome do pânico. Para emagrecer, para engordar, para engravidar e não engravidar. Será que Fahrenheit 451 é mesmo sobre o futuro, ou é a sociedade de 1966, que persiste até hoje, camuflada de aspectos futuristas? Realmente na época em que Ruy Bradbury escreveu o livro (1953), que deu origem ao filme, erámos muito diferentes de hoje em dia?
A situação, na atualidade, só tem piorado. Transformamo-nos em viciados em televisão, cigarros, bebidas, e assim nos distraímos e as coisas realmente importantes que ocorrem no mundo e dentro até de nossas próprias casas são desvalorizadas. Política torna-se coisa de político, e os cidadãos se despem de suas obrigações e direitos. Como no filme, Linda – esposa de Montag – mantinha com o marido uma relação supérflua e fria, sem nem sequer lembrar-se de quando o conhecera.
Li alguns comentários sobre Fahrenheit 451 no Filmow, e vi que algumas pessoas achavam sem explicação a sociedade transformar-se assim, e ainda questionarem o porquê as pessoas não tinham a vontade de ideias e coisas novas como temos hoje em dia. Vejo uma clara resposta a essas perguntas: o tempo. Truffaut não mostra o tempo que se passou, mas a alienação vem ocorrendo há anos e cada vez mais acelerada. Desde pequena acreditei no Efeito Estufa, e agora os cientistas estão falando que isso é mentira e que na realidade o planeta está resfriando. Logo vemos como que as informações muitas vezes são enganosas e que devemos questionar sobre o que ocorre no mundo por este nos influenciar, para isso estudo, curiosidade e questionamentos são muito importantes na vida de uma pessoa que não quer se deixar alienar.
A “Família”, como é chamada a sociedade na película, promove através da televisão uma coesão social desejada há séculos, inclusive por dar oportunidade às pessoas, denominadas primos, de “interagir” com a história contada na televisão, o que é claro é enganação. É perceptível que as falas haviam sido gravadas. Montag também entende isso e tenta desiludir a mulher, que contrariada, continua na sua alienação.
Incrível pensar que toda a vida de Montag se faz questionar quando a professora lhe pergunta se já lera algum livro. Este atordoado, nega, mas inquieta-se e então procura ler algum para entender porque são proibidos. Logo, apaixona-se. Às vezes a rotina e a repetição nos faz distrair e assim não questionamos o que está acontecendo, não nos perguntamos se está tudo bem, se somos felizes, se viver como os outros vivem é a melhor maneira de viver. As perguntas atordoam as pessoas, mas devem ser feitas, mesmo se as pessoas contrariarem as ideias que temos, mesmo se discordarem do óbvio, o importante é que elas reflitam, e assim você também irá refletir.
O primeiro sonho que Montag tem é após ler, é fantástico e psicodélico, com as memórias do que passou nos últimos dias retornando de forma embaralhada. Percebemos a influência de Hitchcock nesse momento, por admirá-lo instaura nesse filme a experiência de usar a técnica do “diretor bárbaro”, que dizia que os sonhos eram ótimas formas de expressar-se cinematograficamente, ou seja, apenas através de imagens.
Outra influência é a introdução do filme, ela é a narração dos diretores, produtores, atores, etc. que estão por trás do filme, o que nos deixa curiosos. As introduções dos filmes de Hitchcock são maravilhosas e todos os seus filmes são milimetricamente pensados. Truffaut apesar das influências, deixa sua marca novamente: o baixo orçamento e o final do filme, que é questionador e o roteiro acaba em aberto, como em Os Incompreendidos.
Estranho que essa sua produção tenha como idioma original o inglês, já que no momento que entrevistava Hitchcock dizia não fazer sentido filmar um filme na França ou em qualquer país em inglês. Mas acredito que haja um fundamento nisso, pois como os EUA têm influencia mundial desde a época que o filme foi gravado, eu acredito que era uma forma de mostrar que essa realmente será a “língua do futuro” e realmente, hoje em dia, quem não tem inglês é descartado, por exemplo, de um emprego.
A ideia por trás da proibição e queima dos livros é ensinada nas escolas para as crianças como algo que pega fogo, para os adultos como algo que faz as pessoas tornarem-se anti-sociais e melhores que as outras. Realmente tem pessoas que acreditam que por lerem, são melhores que as outras que não leem. O que é uma infeliz utopia, como seria bom se para melhorarmos quem somos só lêssemos livros. A realidade não é assim, todo o conhecimento que os livros podem passar podem não ser transmitidos e muitas vezes se os são, há pessoas que não conseguem aplicar tais conhecimentos em sua vida. Não é porque uma pessoa gosta de romances amorosos, que conseguirá ser um amante ou um romântico, nem porque alguém lê política, que tal pessoa tornara-se um bom político. Seria maravilhoso se todos pudessem aplicar todos os nossos conhecimentos em vida, acontece que somos seres humanos imperfeitos e erramos independente de quantos livros tenha lido ou escrito.
Não sei se essa reflexão foi intenção de Truffaut, mas veio claramente a minha mente. Feliz seríamos se fosse simples assim, ler e então ser, e então viver, aplicando o conhecimento que tivemos. Às vezes aprendemos algo ao errarmos e mesmo assim, sem querer, erramos de novo. Mesmo assim, acredito que ler nos fazem refletir e tentar melhorar quem somos, veremos nos erros dos personagens as suas causas e consequências e assim pensaremos até que ponto tudo o que foi feito foi válido e se não for, pensaremos no como deveria ser feito. Brincando com o jogo do “se…”.
Além disso, a ideia da queima de livros pelo fictício Estado Autoritário é uma nítida referência às ditaduras que ocorriam no mundo inteiro – nazistas, comunistas, latinas, fascistas, as que ocorriam e que AINDA ocorrem no Oriente Médio e na África.
Bradbury definiu que Ficção científica “é uma ótima maneira de fingir que você está falando do futuro quando na realidade está atacando o passado recente e o presente”.